Gil Eanes, ilustre navegador português, foi escudeiro do infante D. Henrique e mais tarde armado cavaleiro, ultrapassou o cabo Bojador em 1434, capitaneando uma barca, depois de quinze tentativas infrutíferas de marinheiros não nomeados, levados a cabo por ordem daquele príncipe.
Zurara não fala, porém, das grandes dificuldades de ordem náutica que tiveram de ser vencidas para se contornar o promontório; só muito mais tarde foram elas esclarecidas, com fundamento no grande número de viagens falhadas antes da de Gil Eanes e num discurso dirigido a este navegador que a Crónica põe na boca do infante; todavia, o cronista justifica a demora havida na realização da viagem de um modo diferente, pois explica como os navegadores enviados antes de 1434 para a levarem a cabo se distraiam do seu objectivo, atraídos por fáceis depredações que cometiam nas Canárias ou em assaltos à navegação moura, acções a que o próprio Gil Eanes não foi estranho (Crónica dos feitos da Guiné, ed. Dias Dinis, pp.54-55).
Gil Eanes
A viagem de Gil Eanes marca, no entanto, o início dos descobrimentos ao longo da costa do Ocidente da África; por isso ela é, de qualquer modo, um passo muito importante na história da expansão portuguesa. Logo depois deste feito, Gil Eanes, de novo com uma barca, e Gonçalves Baldais, com um barinel, correram 50 léguas de costa além do cabo.
De outras viagens em que o navegador tenha tomado parte, Zorara regista circunstancialmente a organizada por Lançarote em 1444, em que foi uma verdadeira expedição armada sobre as ilhas de Tide e de Naar, e aquela que em 1445 chegou até o Cabo Verde, com demora nas Canárias, donde parece, aliás, que Gil Eanes logo regressou ou Reino (D.H.P.)